sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Após aprovação, jovem com câncer conta como enfrentou vestibular

09/02/2011 - 10h21

Fonte: Folha.com

MAURÍCIO SIMIONATO
DE CAMPINAS

Eduardo Piniano Pinheiro, 18, passou em três das principais universidades do país (USP, Unicamp e UFSCar) --também passou na primeira fase da Unesp, mas não pôde fazer a segunda.
Fez a prova da Unicamp dentro do hospital, enquanto tratava um câncer no músculo da coxa.
Ontem de manhã, soube da aprovação na USP. À tarde, deixou o hospital. Agora vai escolher o curso, trancar a matrícula e fazer químio e radioterapia. Veja seu relato:
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Descobri um caroço na coxa no começo de novembro. Fui a cinco médicos, até que um deles disse que era um tumor e que precisava operar.
Já tinha passado de ano e estava estudando para o vestibular. Resolvi prestar direito na USP e engenharia na Unicamp e na UFSCar. Queria uma universidade pública, porque são cursos caros.
Não fiquei muito preocupado com o tumor porque não tinha noção de que poderia ser grave. Li os livros pedidos pelos vestibulares e continuei estudando.
Moro em Bragança Paulista, e, no dia 17 de dezembro, fui para a Casa de Saúde de Campinas para ser operado.
Depois da cirurgia, o médico achou que o tumor era benigno, por isso passei as festas tranquilo com minha família. Mas, no dia 3 de janeiro, tive a notícia de que era maligno e fiquei bem mal nos primeiros dias. Mal falava, fiquei abatido.
Joel Silva/Folhapress
Eduardo na casa de uma tia em Campinas; ele foi aprovado na USP, Unicamp, UFSCar e na 1ª fase da Unesp
Eduardo na casa de uma tia em Campinas; ele foi aprovado na USP, Unicamp, UFSCar e na 1ª fase da Unesp
PROVA NO HOSPITAL
No dia seguinte, voltei a Campinas para iniciar os exames e o tratamento.
A prova da Fuvest eu consegui fazer em uma sala especial no colégio Coração de Jesus. Ainda não tinha começado a quimioterapia, mas estava com os curativos da cirurgia e tinha que levantar de vez em quando por causa da dor. Por isso me liberaram.
A primeira quimioterapia coincidiu com a segunda fase da Unicamp. Como eu seria internado, consegui autorização para fazer a prova no Centro Infantil Boldrini, também em Campinas.
Fiz o vestibular acompanhado de um fiscal em uma ala do hospital. Senti a mesma tensão que em uma sala normal com outros candidatos, mas também a tensão de ficar sozinho com o fiscal.
Precisei me concentrar bem para esquecer que estava em um ambiente que lembra a doença e, assim, focar somente no vestibular e ter força para fazer tudo direito.
DIETA ESPECIAL
Nessa última internação, para mais uma quimioterapia, tive infecção intestinal e fiquei 12 dias no hospital.
Por causa do tratamento, não posso correr risco de contrair infecções e tenho de evitar aglomerações e contato com animais. Também evito frutas e verduras cruas, por causa do risco de terem alguma bactéria.
Gosto de comida japonesa, mas não poderei comer até acabar o tratamento. Pelo menos posso comer sorvete e massas.
Amanhã [hoje], volto ao hospital para me preparar para a radioterapia, na quinta-feira. Serão 30 dias de radio e não sei ainda se vou ficar internado. Vai depender da minha reação. Estou me recuperando bem e consegui responder ao tratamento. No começo foi complicado, mas aceitei melhor.
E ter passado nos três vestibulares foi um incentivo. Primeiro soube da Ufscar, por causa da nota do Enem. Anteontem, saiu a lista de aprovados da Unicamp e vi que tinha passado. Fiquei muito feliz. Ontem, foi a vez da USP.
Me surpreendi com a Unicamp, pois estava muito nervoso no dia da prova.
REDE SOCIAL
Nasci em Bragança Paulista e sempre vivi e estudei lá. Mas costumava viajar para Campinas para ir ao cinema porque não tem em Bragança Paulista. O último filme que assisti foi "A Rede Social".
Hoje, me comunico com meus amigos pelas redes sociais por causa do câncer.
Gosto muito de computador e tive boas notas na escola, mas nunca fui de passar o dia estudando. Gosto de exatas, mas adoro história e direito também.
Vou aproveitar os próximos dois dias longe do hospital para decidir qual curso vou fazer: engenharia da computação, na Unicamp, ou direito, na USP.
Não fiz cursinho. Meu pai é metalúrgico numa empresa que produz fechaduras para carros. Minha mãe tem 44 anos e é professora do ensino fundamental. Tenho uma irmã de 12 anos, a Isabela.
Em Campinas, fico na casa de minha tia Cíntia. É aqui que vou recuperar quando não estiver internado.
Fico feliz de poder incentivar outras pessoas com a doença, porque a vida continua. Tem o José Alencar [ex-vice-presidente] e outros famosos que superaram bem a doença. Se eles podem, porque eu não posso?

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